O Fim do Ano e a Jornada do Herói Interior – Uma Perspectiva Junguiana
- Rafaela Ussier

- 12 de nov.
- 3 min de leitura
Por que as festas de final de ano despertam nossa Sombra?
O calendário muda, os fogos explodem e, de repente, somos inundados pela sensação de "novo". A passagem do ano, mais do que uma mudança de data, é um ritual profundo que mobiliza algo essencial em nossa alma. É um momento de pausa forçada, onde a vida nos convida a olhar para trás e, ao mesmo tempo, nos empurra para a frente. Na psicologia junguiana, esses momentos de virada são vistos como Ritos de Passagem Arquetípicos, que têm um grande poder sobre nossa psique. Eles nos obrigam a encerrar um ciclo para que a energia psíquica possa, de fato, se renovar. Mas esse processo nem sempre é leve.
As festas de final de ano são frequentemente vendidas como um período de felicidade inquestionável, reencontros harmoniosos e sucesso garantido. No entanto, para muitas pessoas, essa época desencadeia uma profunda melancolia, ansiedade e um sentimento de desajuste. Por que o "espírito natalino" nos confronta com uma sombra tão intensa?
Na Psicologia Analítica de C. G. Jung, o final do ano é um poderoso Rito de Passagem, um momento arquetípico de encerramento de ciclo que mobiliza a nossa psique de maneiras profundas:
O Balanço da Persona: O fim de um ciclo nos convida, explicitamente ou não, a fazer um balanço do ano. A Persona – a máscara social que usamos para nos apresentar ao mundo – é colocada à prova. As expectativas sociais de "sucesso", "realizações" e "família perfeita" (amplamente divulgadas nas redes sociais) se tornam um espelho cruel. A dissonância entre a Persona que gostaríamos de ter e a nossa realidade pode gerar culpa, frustração e a temida "Síndrome do Fim de Ano" ou "Dezembrite".
O Encontro com a Sombra: O contraste entre a alegria coletiva e a tristeza ou frustração individual é o catalisador para o encontro com a Sombra – o conjunto de traços e emoções que a consciência rejeitou e manteve no inconsciente. Sentimentos de inveja, fracasso, arrependimento ou raiva, que reprimimos durante o ano, emergem com força. As festas funcionam como um holofote, iluminando nossas faltas e o que ficou por fazer. O processo de Individuação – a busca por tornar-se um indivíduo indivisível e completo – exige que acolhamos essa Sombra, e não que a reprimamos com mais euforia forçada.
O Arquétipo da Família e o Inconsciente Coletivo: O Natal e o Ano Novo ativam o Arquétipo da Família e, consequentemente, reabrem feridas e complexos familiares antigos. Reencontrar a família pode significar revisitar papéis obsoletos e conflitos não resolvidos. É a dinâmica do Inconsciente Coletivo se manifestando através de rituais que, embora busquem união, podem evidenciar a separação e a dor.
A Neurociência e a Sazonalidade da Psique
Além disso, para brasileiros que moram fora do país, além da questão de afastamento das pessoas queridas, familiares e amigos, é fundamental considerar o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS). O TAS é conhecido por ocorrer no inverno em países com estações bem definidas, de alta latitude onde a luz solar é escassa. Em regiões frias, a diminuição da luz solar afeta a produção de Serotonina (o neurotransmissor do bem-estar) e desregula a Melatonina (o hormônio do sono), impactando diretamente a energia e o humor. A pressão social do final do ano, somada ao encerramento biológico de um ciclo, acaba por intensificar essa "baixa de energia" sazonal.
O Convite da Psicoterapia Analítica
Se o seu final de ano tem sido um campo minado emocional, a Psicologia Analítica oferece um caminho de integração e significado. Em vez de negar a tristeza ou se forçar a ser feliz, a psicoterapia junguiana convida você a:
Validar a Sombra: Não fuja da melancolia. Pergunte: O que esta tristeza está tentando me dizer? Que parte de mim foi negligenciada neste ano?
Ressignificar o Rito: Você não precisa se conformar com rituais que não ressoam. Crie seus próprios ritos de passagem, que honrem o seu balanço pessoal, suas perdas e suas conquistas.
Fortalecer o Self: Ao integrar os aspectos sombrios e as frustrações, você se move em direção ao Self, o centro organizador e totalizante da psique. É no acolhimento da totalidade da experiência, com seus picos e vales, que reside a verdadeira paz.

Quer transformar a angústia de final de ano em um momento de autoconhecimento profundo? A Psicoterapia Analítica pode te ajudar nesse balanço de final de ano a caminho para a sua jornada de individuação.
Psicóloga Rafaela Ussier
CRP 06/119822




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